Se você acha que ser cagão é uma virtude, talvez o texto da Samy não seja para você. Ou, pensando bem, talvez seja exatamente para você.
Uma vez eu conheci uma moça — inteligente, bem articulada — que ficou anos sem postar coisa nenhuma no Facebook porque tinha pavor de alguém notar algum erro de português dela. Anos sem escrever. Anos sem compartilhar o que pensava, do que gostava, o que tinha vivido. E ainda pior: anos sem estudar as porcarias das regras do português.
Nem fez uma coisa, nem aprendeu a outra coisa.
Geralmente, é o que acontece com quem não corre riscos. Nem faz, nem aprende, nem vive, nem escreve, nem… descobre.
A Samy descobriu.
Inteligente, bem articulada, ela não ficou anos sem postar nada. Posta todo santo dia. Sem pavor. Com a coragem de quem está se descobrindo.
Um risco por dia.
Ainda bem. Sem eles, não teríamos este belo texto aqui.
Encaramos a vida como se andássemos numa corda bamba de patins, com medo de qualquer movimento ou de que um vento nos faça cair no abismo. Como consequência, sentimos tudo à flor da pele. Vemos tudo como um risco, e todo risco como perigo.
Nos assusta a probabilidade da probabilidade de que algo aconteça. Não podemos errar. Não podemos oscilar. Muito menos arriscar.
Já pensou no que pode acontecer se você fizer aquilo que reprime, mas tem vontade?
Deus te livre de postar um texto e enfrentar a consequência terrível de conquistar leitores. De errar o uso do "porquê" e alguém que faz parte dos dois por cento da população perceber o seu erro. De rasurar uma palavra errada num texto com um simples risco. Logo você, o sabichão.
Quem te dera ter a ousadia de fazer o que tem vontade, mas reprime.
Não me leve a mal, eu escrevo esse texto sem julgamentos. Entendo e também sinto o mesmo medo. Penso tanto em como evitar o desconforto que acabo não percebendo como essa esquiva sufoca minhas vontades, já que reprimir não as faz desaparecer, e confesso que às vezes, até aumenta a sanha.
Nós tentamos tanto fugir do risco de dar certo que não percebemos que a corda não está sob nossos pés, mas em volta do nosso pescoço. Não percebemos que o maior risco é nunca correr risco algum.
Já que um risco não é apenas a iminente possibilidade de um perigo; ele pode ser também a chance de viver algo bom. Afinal, bastou um único risco para que o rabisco no rascunho da Capela Sistina começasse a se formar e se tornasse uma das maiores obras de arte da humanidade. Mais um risco, e, num ímpeto, a primeira letra de Fernando Pessoa se formou no papel enquanto ele, num desassossego, escrevia seus primeiros poemas. Bastou remover o risco da margem do papel para que Elena Ferrante, sentindo-se um pouco mais como Virginia Woolf, deixasse suas ideias fluírem livremente, nos levando por suas histórias de mulheres italianas. E basta, hoje, um único risco para que você comece a escrever a primeira letra do seu próximo texto; E, pasme, continuando com mais alguns riscos, você também o terminará.
Mas correr riscos não é para todo mundo - nem andar de patins. O risco só é uma oportunidade para quem tem vontade. Afinal, não há risco numa página em branco. Mas só arrisca quem tem coragem.
Vamos lá, é só começar, basta um único risco.
Ameiii 🥹🥰
Poxa… pegou aqui 🤯
Lá vai eu ficar refletindo em posição fetal nos próximos 15minutos de pausa entre reuniões